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Deus

  • Ju Leijôto
  • 22 de fev. de 2016
  • 4 min de leitura

Eu fui catequista quando tinha uns dezessete anos. Achava linda a função e sempre adorei crianças. Era inspirador sair de casa para encontrar meus catequizandos, ver a carinha deles e falar sobre o tema do dia.

Mas eu mal comecei e fui... ..."demitida". Acho que é o termo errado para um trabalho filantrópico, mas foi como eu me senti... Rss... O motivo? Alegaram que, infelizmente, eu não possuía o perfil desejado. É, realmente eu não tinha. E eu sabia disso. Lembro-me que era olhada de canto pelas freiras, quando eu levava argila para as crianças tentando dar alguma explicação sobre quem ou o que era Deus, ou quando bolava didáticas mirabolantes de interação entre elas, que as fizessem entender as lições deixadas por Jesus Cristo. Elas amavam! Mas talvez eu mais fizesse brotar dúvidas nas cabecinhas delas, que respostas.

As freiras tinham razão; eu não era uma boa catequista. Pelo simples fato de que questiono demais, sou um tanto "indoutrinável". Como eu iria doutrinar, desse jeito?

Deus nunca havia representado para mim uma figura que eu pudesse explicar. O momento em que eu mais me sentia em conexão com Ele, era quando eu estava diante do mar, parada, em silêncio, com os pés na água... Atônita com o infinito inquietante que existe entre o céu e o oceano, que traz consigo o poder de inundar por dentro, me fazendo refletir, retornar a mim...

O Deus da imensidão que me encantava (ainda encanta), e que certamente fazia parte da arquitetura de tamanha beleza, não se parecia com o que pedia sacrifícios, castigava, definia quem ia para o céu ou para o inferno.

Alguns dogmas da igreja pareciam distantes do que eu sentia dentro de mim, mesmo com aquela vontade enorme de gritar aos quatro ventos "Não faças ao próximo o que não queres que seja feito a ti" e todos os ensinamentos supimpas de Jesus Cristo.

A virgindade de Maria ficava tão pequena aos meus olhos quando eu pensava na mulher guerreira que ela foi, sempre ao lado de seu filho destemido, sempre abraçando suas causas, sempre encarando o povo da época - que devia ser totalmente inconveniente em relação à sua estranha gravidez e etc. Maria deve ter sido fantástica! Por que tanta adoração em torno de sua virgindade? O que tinha o sexo de tão impuro, que Jesus não poderia ter vindo dele? Qual o problema da homossexualidade? Por que um casal não devidamente casado dentro de uma igreja, não merecia as bênçãos de Deus? Por que me confessar com um padre? Não teria ele, pecados também? E etc, etc, etc.

Eu era uma católica muito cheia de “por quês”, “pra quês” e isso não combina com uma catequista, óbvio.

Ok, aos dezoito anos, parei de teimar e passei a digerir que a religião, por mais linda que fosse, não representava para mim algum tipo de seta para verdade. Ouvi um pouco sobre várias delas, me permiti conhecer algumas de perto, menos ortodoxas. Entendi alguns dos meus dilemas em relação à mediunidade, me apaixonei pelo Kardecismo e me encantei pelos orixás. Maaaaas, não parei em nenhuma delas.

Percebi que falta muita sabedoria mesmo, para doutrinar alguém, mas no sentido mais amplo da palavra, o do aprendizado, pois sou eu quem ainda preciso instruir-me muito.

Com tudo isso, passei a admitir que meu conflito entre o berço religioso e a minha cabecinha cética, só fez fortalecer o que chamo de Deus.

Palavra incomensurável, que de forma particular, pode ser interpretada e sentida das mais diferentes formas. Para mim, Ele é uma incógnita linda, uma energia que não posso tocar, mas mora dentro de mim. Sabe o "bem"? É, o amor? Sim, aquela paz de espírito, aquela luz que imaginamos em nosso íntimo e nos traz paz? Sabe o que as pessoas chamam de boa vibração? Então... Eu chamo de Deus.

Perceba; aquela fé que te move, é Ele, é Deus.

Aquela certeza dentro de si que te direciona e te faz “mover montanhas”, para mim, se chama Deus.

É algo que podemos acessar nos mais variados momentos da vida, pois é o universo que nos abraça, e o universo dentro de nós.


Sei o quanto não sei nada sobre seguir uma crença, tampouco quero desmerecer as religiões, tão importantes no direcionamento da vida de tanta gente...

Mas sei também que essa força do bem é o que eleva e nos tornará a cada dia pessoas melhores, independente do que adoramos. Afinal, citando o que disse esse autor desconhecido: “Buda não era budista, Jesus não era cristão, Maomé não era muçulmano. O amor era a religião que eles seguiam.”, entende? Por que templos tão esplendorosos, se a imensidão deveria habitar somente o coração de cada um de nós? Sim, continuo a perguntar; Por quê?


Deus mora dentro de cada ser, mora no mar, na floresta, no céu, no vento, em cada bicho, flor e coração... Em cada sorriso de criança, em cada gesto de caridade, em cada peito preenchido por bondade, por ternura a si mesmo e ao próximo.


Ele é a vibração por um mundo melhor, de gente que deseja evoluir anos e anos até que um dia, quiçá, possa desvendá-lo em total sintonia com somente uma doutrina universal;


O AMOR.










 
 
 

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