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A mulher que me "ins-pirou"

  • Ju Leijôto
  • 8 de mai. de 2016
  • 5 min de leitura

Gostaria de apresentar a vocês a responsável pela minha forma de ver o mundo; Maria da Conceição.


Decoradora de festas, fã de flores, de música boa, trabalhadora incansável e simplesmente o ser mais fantástico que conheci em toda minha vida. Pensa em uma pessoa que TODO mundo gosta? Eu disse TODO mundo. É ela; a Sãozinha.


Bom, mas gostaria de falar do quanto ela me "ins-pirou". :)


Uma das minhas primeiras lembranças da infância é dela, na cabeceira da minha cama, com um livro nas mãos. “E então Alice disse ao Gato que sorri ‘Mas eu não quero me encontrar com gente louca’ e ele respondeu, ‘Oooh, não se pode evitar, todos são loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca...’.” – caras e bocas, gestos, e voz da Alice e do Gato.


Lembro de amar ouvir minha mãe lendo pra gente (eu e a Lu, minha irmã, dois anos mais nova).


Ela fazia um esforço danado pra gente se espelhar em pessoas que ela admirava. Amigas, familiares, pessoas próximas. A humildade dela é tão grande, que não imaginava que o amor com que nos criava a transformaria em nossa maior referência.


A gente cresceu num quintal gigante, cheio de frutas, bichos, árvores e mato. No degrau da porta da sala, ela contava muitas histórias e colocava um banquinho para eu usar de mesa e ali desenhar. Fui crescendo vendo aquela figura sorridente a me ninar e cuidar de cada tropeço meu, me fazendo acreditar que sim, tudo ficaria bem, absolutamente tudo.


E era só deitar no colo dela, que ficava tudo bem, mesmo.


De fundo, tocava Rita Lee, Blitz, e Secos&Molhados. Ela arrumava casa cantando, com o som alto e a barulhada se completando com o "zum, zum" insistente da enceradeira.


Eu desenhava, desenhava, e ela dava ideias de novos rabiscos.

E dançava, dançava, e ela me ensinava passinhos engraçadinhos.


Posso contar? Eu dublava a Madonna. Rs... Eu morena desse jeito, dublando a Madonna, aos 3 anos de idade. Vocês podem imaginar? Pois é.


Não importa! Ela me incentivou a dançar.


Eu sempre fui tímida, e mamãe descobriu desde cedo que eu precisava meio que do oposto da timidez para me soltar; a exposição. Eu amava. Sou leonina, né... Adoro um palco!


Fui crescendo, os desenhos ficando mais elaborados, e com uma mamãe "ins-pirada", veio a vontade de escrever... Lembro que escrevi e ilustrei um livrinho sobre gnomos e duendes, e ela empolgadíssima, dando ideias, sugerindo doidices. Eu adorava!


Tinha um jardim de margaridas atrás dela, bem atrás daquele sorriso.


Nessa altura da minha infância, ela já tinha mudado de rotina. Eu devia ter oito anos ou mais e, por conta de problemas familiares, ela precisou ser o homem da família. Ela não estudou muito, não tinha grandes experiências profissionais, mas precisou encarar o papel de provedora familiar sem choramingar.


Minha mãe nunca teve tempo para choramingar, nem queria.


Na correria entre o trabalho como decoradora de festas e casamentos, e nós, ela fazia milagres. Não podíamos lamentar absolutamente nada sobre seu papel de mãe. Pelo contrário, era inspirador ter uma mãe tão versátil e guerreira.


Eu continuava desenhando, dançando. A Lu gostava de esportes.

Não tardou em chegar a Jojô; mais uma alegria, mais uma boca pra alimentar, mais uma menina inspirada por ela.


As três, ouvindo suas histórias, MPB, o som da enceradeira, os risos, e sentindo o cheiro de flores que ela tem até hoje.


As três, vendo, numa geração onde isso era incomum, uma mulher assumir o posto de líder da família, encarando o B.O. de amar um marido afetuoso, mas... alcoólatra.


Uma mulher que nadava contra a corrente e fazia somente o que sua consciência pedia, deslizando entre críticas e comentários muitas vezes maldosos sobre sua lealdade e paciência com o esposo, sobre sua rotina conturbada de trabalho e a responsabilidade de cuidar dos quatro; eu, Lu, Jojô e o meu pai. Não consigo imaginar quantas vezes ela ouviu coisas como “Você não vai dar conta”, “Separe-se dele”, “Suas filhas vão se perder na vida”...


Éramos, sem dúvida, uma família diferente para a época.


Meu pai faleceu quando eu tinha 18 anos. Um dia, falo mais sobre ele.


Enfim,


Ela estava sempre sorrindo. Ela está sempre sorrindo.

Não lê tanto hoje pra gente, mas escreve cartas. Ela ama escrever.

Teve acesso à internet agora a pouco, faz uns meses. Mas nunca precisou de nada disso pra ser criativa e inovadora.


A gente foi crescendo sem aceitar ser menos do que ela é; irreverentes, corajosas e independentes. Cada uma a sua forma, fomos influenciadas pelos traços dessa mulher incrível que é a Sãozinha.


A Lu é tão multifuncional quanto, e empreendedora. Não tem medo, assim como ela, de meter a cara no trabalho e ser a dona do pedaço. Lu é casada, formada em Educação Física, tem dois empregos, uma empresa, e dois filhos.


A Jô, a mais inteligente. Feminista, politizada e fofa. Toca violão, baixo, guitarra, arrasa nas artes gráficas e está se formando em arquitetura pela UFSJ. Ela é foda.


Eu, bem... Rs... A mais "ins-pirada". Peguei o lado artístico dela. Sou lunática, amo escrever, desenhar e... Bom, vocês já sabem disso. Ainda escuto Rita Lee, Blitz, Secos e Molhados e otras cositas más. Sou jornalista por profissão, mas de coração, eu sou hippie. Ando com vontade de escrever livros infantis – confesso. Rs... Todos eles, seriam inspirados na minha infância, aquela, cercada de bichos, árvores, frutas, histórias e uma mulher sorridente.


Saí de Conselheiro Lafaiete – MG, pra encarar Sampa, sem eira nem beira, só com a coragem. Me lasquei muito, mas quando pensava em entregar os pontos, lembrava do colo da minha mãe e da carinha linda dela afirmando; "Tudo vai ficar bem"!


Sim, mãe, agora está tudo ficando bem! Demorou, mas está!!! :D


Me lasquei demais, ô.

Mas é a sua história de vida, que me dá ânimo para encarar tudo com otimismo, honestidade e força, pra saber que SIM, vai ficar tudo bem!


Eu só quero ser para meus filhos o que você é pra mim, só isso.

Só quero passar os mesmos princípios, e que eles me vejam da mesma forma com que vejo você.


Você formou mulheres audaciosas e que tiveram, cada uma, a coragem de seguir seus sonhos aos trancos e barrancos e colher os frutos de uma educação maravilhosa.


Você criou três mulheres fantásticas.


Não permitiu que as adversidades nos desencaminhassem como tantos temiam - elas apenas nos tornaram mais fortes!


E mãe, no momento em que vivo, só consigo te amar ainda mais.

Cresce dentro de mim a capacidade de sentir verdadeiramente o amor que você tem por nós...


Eu te amo cada vez mais, e só tenho a agradecer por cada leitura, cada laço no cabelo, cada dança, cada bicho e flor do jardim, cada colo, cada olhar materno, e por ter me permitido sonhar... e voar!


O sentimento materno que vem com a maturidade, têm me aproximado da sua importância, e da serenidade de sossegar em um ninho...


Estou formando o meu, inspirada na sua ternura,


mas é libertador saber que posso voar a vontade, porque tenho meu emaranhado de amor e flores aí, no seu colo,


sempre para voltar.




Eu te amo mais que tudo! Obrigada por existir, mãe!


 
 
 

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